sábado, 21 de maio de 2016

UMA VEZ CHEGA

Era Quarta-feira à tarde, dois dias antes da Sexta-feira santa. A relva estava cortada, os canteiros das flores cultivados, o pátio varrido, e tudo estava quase preparado para as celebrações da Páscoa. Sendo um adolescente de 14 anos de idade e o mais velho na minha família, eu tinha a responsabilidade de ir fazer grandes recados para buscar qualquer compra que fosse necessária.

Por volta das 14H00 o meu pai pediu-me para ir aos montes buscar as cabras para mais perto de casa. Eu só tinha andado os cerca de 300 metros, até perto da casa do Denis, quando começaram a faiscar relâmpagos no céu e o ribombar de trovões, e a atmosfera a escurecer. (Nas Caraíbas, uma pessoa sabe exactamente o que fazer a seguir, isto é, buscar imediatamente abrigo da chuva). Eu corri para a varanda do Denis justamente a tempo de vê-lo e ao seu irmão a saírem pela porta fora e a dirigirem-se para a cozinha no pátio, e eu decidi unir-me a eles.

Já molhado da repentina chuvada, nós atiçámos o lume, e logo que secámos saímos de junto do lume para nos irmos sentar num banco a um canto da cozinha. A chuva caía a cântaros e sabíamos que ninguém se aventuraria a sair para se vir unir a nós na cozinha. Nós estávamos sozinhos.

O Denis e o tio do Pedro cultivavam tabaco e tinham uma grande quantidade a secar por cima do fogo. O Pedro, de 17 anos de idade, fez um grande cigarro das folhas do tabaco que estavam a secar. O Denis, que tinha a minha idade, fez o mesmo. Eles acenderam os cigarros e começaram-nos a chupar profundamente. O Denis tossiu e cuspiu, mas o Pedro estava completamente silencioso, ele estava justamente sentado ali com o cigarro entre o seu polegar e o dedo indicador, com o cotovelo apoiado no seu joelho. O Denis imitou a postura do seu irmão, e eu observava com espanto, descobrindo pela primeira vez que os meus amigos eram fumadores.

Dá uma chupadela. – Disse o Denis enquanto estendia o seu cigarro para mim.
Não, não, eu não fumo – respondi.

Não importa; isto não te faz mal. Só um pouco de tosse a princípio, o resto é fácil. O Pedro e o Denis pareciam muito homens, e eles eram meus amigos.

Vá, experimenta, insistiu o Pedro. Olha para mim, não há nenhum problema. Experimenta só e sente o fumo morno a fazer cócegas na tua garganta. Tu irás gostar. O Pedro pôs o seu braço por cima dos meus ombros, pôs o cigarro, meio consumido, diante da minha cara, e, calmamente disse, vá experimenta. Sê um homem.

Eu peguei no cigarro, coloquei-o na minha boca e fiz quatro chupadelas profundas. Os meus olhos encheram-se de lágrimas. Eu tossi e cuspi. Senti um gosto horrível na minha boca. Voltei a dar o cigarro ao Pedro. Eles riram. Eu também tentei rir!

Pouco depois disso parou a chuva. Nós combinámos encontrar-nos às 17H00 para passarmos a noite juntos, enquanto fazíamos recados aos nossos pais. Trouxe as cabras para perto de casa e apressei-me a ir tomar um banho.

Durante o meu banho senti sensações inusitadas. Senti a minha cabeça como se fosse um pião a girar; a minha garganta estava seca; sentia cãibras no meu estômago; sentia vontade de vomitar, mas não conseguia. As minhas pernas ficaram sem forças; eu suava e tive de encostar-me à parede para não cair. Fiquei com medo. Os meus pais não devem ter sabido como eu me senti; caso contrário não me teriam permitido ir às lojas. De qualquer maneira, consegui sair de casa sem eles notarem qualquer coisa estranha. Com o dinheiro bem colocado nos meus bolsos, e o cesto das compras na minha mão, depressa percorri o caminho até me encontrar com o Denis e o Pedro. Eu não conseguia coordenar muito bem os meus movimentos. Orei, Senhor, ajuda-me a ficar bom.

Enquanto caminhava os cerca de três quilómetros com os meus amigos pela estrada de terra até às lojas, achei que levantava os meus pés mais alto do que o normal, para evitar tropeçar. Aquela noite foi uma das mais terríveis na minha vida. Não só não tive prazer na saída daquela noite, como me roubaram os dois quilos e meio de arroz que fora comprar sem eu dar conta disso. Fizeram um buraco no fundo do cesto e só estava o papel do embrulho no cesto quando cheguei a casa.

Essa foi a primeira e a última vez que usei drogas.

Pensa bem nisto: Porquê é tão difícil dizer não a amigos, mesmo quando sabes que o que eles estão a fazer é errado?

«Tu foste comprado por um preço. Portanto, honra a Deus com o teu corpo.» (I Coríntios 6:20, NIV).

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